A mão esquerda
Roniwalter Jatobá
Ruas, todas no Brás, cheias de vai e vem no fim da tarde: Rangel Pestana, Joaquim Nabuco, Gomes Cardim e a Cavalheiro cheia, também, de ônibus que vão cruzar estradas, Estados e, gente nas ruas, aqui, bestando, correndo pra estação do trem da Central procurando rumo de São Miguel Paulista, Guaianases, Moji, passando homens, mulheres, crianças, todos com seus sonhos, sem sonhos e sonolentos, que partem, que chegam, que trazem esperanças, que voltam vazios de fé, bem vestidos de roupas coloridas, jaquetas compradas a prestações, já liquidadas na Rua Oriente, Maria Marcolina, que apreciam violeiros no Largo da Concórdia e discos ouvidos nas portas das lojas, que compram elixir milagroso de um homem apregoando o remédio para todos os males do corpo. Ferreiro Natanael onde andou teu corpo? E Elias, teu pai, Elias Ferreiro, esperando, de longe, grita: Filho Natanael, pois retoque e repique este ferro em brasa na bigorna tua. |
Cartas@amizade.comRoniwalter Jatobá Gosto de receber cartas. Quando vivia em São Miguel Paulista, um bairro da periferia paulistana, explodia de alegria ao ver o carteiro chegar à antiga rua 4, hoje Raquela Sinopoli, ao lado do secular Mercado Municipal. Vestido de farda amarela, bolsa às costas, ele passava sempre nas manhãs de sexta-feira. Era pontual o mensageiro de más e boas-novas.
|
A filha do príncipeRoniwalter Jatobá
Chamava-se Leididai. Contaram outro dia, em São Miguel Paulista, que esse não era o seu nome verdadeiro. O escrivão do registro civil, ciente da lei, não quis aceitar o que era desejo da família. Com o consentimento amuado do pai, o oficial marcou no papel Eva ou Maria Aparecida. Na morada à beira do riacho Jacuí, porém, a menina foi sempre chamada -- e agora lembrada -- do jeito que todos gostavam: Leididai. |
RemorsosRoniwalter Jatobá Jacinto viu, nublado, por duas vezes, as enfermeiras passarem por ele apressadas, olharem para a sua camisa suja de sangue e se perderem no corredor em frente.
|
Aves de
arribação
Roniwalter Jatobá
Ele
tem em algum lugar da casa uma fotografia que ano a ano envelhece, perdendo a
cor. É o mais antigo registro do avô paterno. No verso, caligrafia bonita, a
dedicatória a parente distante e o ano da pose: 1939. Ali estava reunida a
família na véspera da festa de Bananeiras, dia de santa Ifigênia.
Ele
reconhece em sérios semblantes tias adultas e tios ainda crianças. Quadro
incompleto, a maioria longe, muitos sumidos na busca de destinos pelo mundo.
Sente a falta, entre as mulheres, da tia Nanã. O pai, mais velho dos homens,
vivia pelas minas do Mimoso, à procura de cristal de rocha e ametista. O tio
Preto -- veja a coloração mais escura de sua pele -- também tinha ido pelas
mesmas trilhas do garimpo, viciado nos jogos de azar. O tio Olegário já havia
partido para o Rio de Janeiro, fascinado pelo futuro, e para onde seguiria,
depois, também o tio Deco.
O
retrato se fragmentava em sépia, filhos criavam asas, São Paulo era
sonho.
ARTURCaen,
dezembro de 1947. Artur despede‑se
triste da família e deixa para trás, ansioso, a casa e a roça onde vivera os
primeiros 17 anos. Seguia os passos do irmão mais velho, que partira meses antes
e vivia como ajudante numa fábrica de química.
A
viagem era longa e extenuante. Da sede do município, em Jacobina, ele foi de
trem até Juazeiro. Atravessou o rio e em Petrolina, já Pernambuco, comprou a
passagem mais barata e embarcou no vapor que subia o São Francisco até Pirapora.
Quinze demorados dias, período de seca, o barco vagaroso para não encalhar nas
areias, Artur espremia‑se na segunda classe, localizada no porão, tal qual um navio negreiro.
Depois,
até São Paulo, mais três dias de viagem de trem. No começo de janeiro de 1948,
Artur desembarcava na Estação do Norte, no Brás. De lá, mais trem e, finalmente,
São Miguel Paulista.
O
lugar inchava de gente. Tudo ainda tão pobre, tão nublado e frio, a fábrica de
química arrodeada de casas. Artur caminha agora por ruas recém-formadas, de
terra, a mala pesando -- procura da casa de um parente.
--
A rua 3 é aonde? – indaga.
O
passante aponta no rumo do Jardim Helena, ainda cheio de mato e esparsas
moradias de tijolos nus.
--
Não é longe, não – diz.
Artur
continua se livrando de antigas poças d’água, uma lama só, na busca de um certo
destino.
OSWALDOAprendera
bem o ofício de carpinteiro com o pai nos arredores de Bananeiras. Tinha
trabalho, mas um dia resolveu tentar a sorte. Viajou para São Paulo no final dos
anos 70. Sempre com uma ocupação, mas o dinheiro curto mal sobrava para as
despesas. Isso o preocupava? Aos domingos, era o primeiro a dar sua porção de
ajuda aos construtores de final de semana, na preparação da massa na cobertura
da laje ou no entalhe de uma porta ou janela.
Fria
manhã de agosto. Oswaldo caminha pelos arredores. Desempregado, mesmo assim
acordava cedo. Não conseguia ficar na cama depois das cinco. Naquela hora, sabia
que dificilmente apareceria um emprego fixo, talvez o pedido para ajudar no
próximo domingo no assentamento de laje na casa vizinha, mas sempre guardava uma
réstia de esperança.
Segue
na direção da antiga São Paulo-Rio, nessa hora movimentada. De repente, dobra
uma esquina e, ao esperar a passagem num cruzamento, os olhos batem de frente
num jornal pendurado na banca. Oferecia oito mil vagas para pedreiros, serventes
e carpinteiros.
No
burburinho, leu com atenção mais uma vez. Parecia milagre. Comprou o jornal e
subiu no primeiro ônibus rumo ao bairro de Pinheiros. Foi um dos primeiros a
chegar ao local indicado pelo anúncio. Logo, desconfiou que havia algo errado:
“Moças bonitas nos receberam bem, mas disseram que o quadro de funcionários
estava completo”.
Em instantes, o carpinteiro descobria a verdade: reclame falso. Um trote
havia levado centenas de desempregados a se aglomerar em frente ao Lino’s Clube
Bar, um prostíbulo. A revolta foi tão grande que a PM foi chamada para conter os
interessados nas vagas.
De
volta ao bairro, escurecendo, compara sua vida. Lembra que o vizinho tem uma
ferida na sola do pé que o impede de caminhar. No outro lado da sua rua, uma
construção recente perdeu a parede do quarto na erosão do terreno que dá para um
riacho cheio de sujeira. De longe, Oswaldo avista a frente de sua casa, na rua
de terra. Tem o rosto cheio de rugas, mas tão iluminado que parecia romper as
trevas da noite.
WALDOMIRO
Aos
quinze anos, Waldomiro passou a sonhar com São Paulo. A vontade de ir chegava
mais forte quando à mesa via as minguadas refeições ou quando ajudava o pai no
frágil plantio de feijão ou mandioca.
Corpo fraco, pernas finas e cabeça graúda, Waldomiro virou Mirinho. Não
era de maldade, embora alguns meninos judiassem um pouco dele nas brincadeiras
de futebol ou mesmo na hora do banho no Aipim, nos fins de tarde.
Mas, cada ser vivente tem seu destino. O primeiro caminhão, aquele que
saiu em maio de 1960 para as terras de São Paulo, levou Mirinho entre outros
vinte e dois passageiros. Sentado entre a cabina e a carroceria, abanava as mãos
para todo mundo como se dissesse que sua vez, finalmente, havia chegado. A
passagem fora paga em forma de serviço, como ajudante de caminhão, o primeiro
trabalho longe da roça. A face magra brilhava risonha no entardecer da
partida.
Mesmo lendo as linhas tortas, aquelas traçadas em cada pedaço das mãos,
ninguém sabia nada sobre o dia de amanhã. A precisamente três quilômetros do
ponto da despedida, o Ford F-600 partiu o eixo dianteiro e caiu numa curva do
rio Lajinha, em meio a gritos desesperados. Apesar de noite escura, uma turma
correu para o local assim que chegou a notícia. Não foi um acidente trágico,
embora o veículo tenha ficado inutilizado para qualquer viagem, imagine chegar
até as proximidades da fábrica de química, em São Miguel
Paulista.
O mais avariado era Mirinho, que quebrou o braço esquerdo e fraturou a
clavícula. Aflito pela perda de seu ganha-pão, o motorista contou que “o rapaz
ficou ferido porque ali, entre o cocão e a carroceria, era impróprio para
viajar. Não tinha culpa, já bastava o prejuízo com o carro seminovo.”
Depois de alguns meses, Mirinho estava de volta ao mesmo convívio, embora
o braço teimasse em chegar à posição normal. A mão apontava para cima como se
pedisse a benção. Mesmo dentro d’água era um sacrifício. No rio, as braçadas
viravam redemoinho e ele não saía do lugar.
Mirinho voltou à labuta na roça, como ajuda mínima. O pai entregou as
tarefas dele para o filho mais velho, Januário, um menino troncudo e malvado,
que longe das vistas da mãe castigava sem dó nem piedade o irmão de
sangue.
Waldomiro foi ficando por ali, mas o sonho de ir embora para São Paulo
não se afastava nem um pouco. Passou a assumir atitudes que muita gente chamava
de loucura. Um dia, reproduzia na fala o arrastado sotaque dos habitantes de
Piracicaba, noutro parecia um típico morador do bairro da
Mooca.
Sempre se tem uma explicação para tudo o que acontece na face da Terra.
Quando os viajados chegavam de São Paulo a passeio, Mirinho era uma insistente
presença, muitas vezes até incômoda. Além de pedir uns trocadinhos, escutava
tudo dos recém-chegados da Capital ou do interior paulista. Até a maneira de
tossir, ele ouvia extasiado, ouvidos atentos, arremedando cada palavra, cada
gesto, com inteira vontade de se largar pelo mundo e voltar por igual.
Aí, os visitantes diziam que tudo em São Paulo era formoso, de melhor não
havia. Então, eles falavam sobre prédios grandes, dez, vinte andares, até
tocando as nuvens. Falavam ainda de empregos oferecidos, a escolher, sem calos
nas mãos, ganhando bom dinheiro para o gasto e fazendo
pé-de-meia.
Era mais um dia na vida de Waldomiro. Depois da feira semanal, volta para
casa. Já tarde da noite, senta na cama e escuta o vento que sopra de longe,
chamando. Fecha os olhos. Cansado, dorme. Durante a madrugada, sempre à mesma
hora, chega o sono dos devaneios. Agora, não mais o desconforto do Ford
F-600 que, há muitos e muitos anos,
o transporta para São Paulo. Mas, sim, o vôo sereno sobre os ponteiros de um
relógio Seiko, alado e pontual.
ROBERTOJá
quase chegando aos quinze anos, as coisas foram ficando difíceis. Via que o
trabalho do pai na fábrica de química, chegando mais tarde toda noite, pouco
adiantava. Até que, um dia, o pai chegou na sala, todo mundo assistindo novela.
Então, disse que já estava na hora de ir começando a trabalhar, cooperando com o
sustento da casa.
Roberto
não disse nada. A mãe reclamou que ainda era cedo, logo agora que ele ia findar
o estudo no grupo, esperasse um pouco mais, terminasse o ginásio. Aí, sim,
estava no ponto. O pai respondeu, já se sentando à mesa, que se quisesse
continuar o estudo que fosse de noite. Todo mundo faz assim,
completou.
Roberto
não ficou muito sentido. O lugar de se divertir, o campinho, há muito estava
cercado. A fábrica tomava tudo: cerca de arame com quatro fios, farpados. Em
construção, só se ouvia de longe o barulho de concreto sendo despejado no chão,
serras elétricas, serrotes comuns cortando madeiras; enxadas e pás tinindo de
manhã à noite; o ar amarelo, cheiro de química.
Fizesse
sol ou chuva. Aquilo nunca parava. Crescia sim. O terreno cercado de valetas,
lugar de monturos, escoamentos de casas vizinhas, ajuntamento de urubus toda
tarde, mudou. Naquele tempo, quase não tinha nada disso. Já não se escutavam os
gritos da molecada correndo atrás de bola, não. Só o ronco dos caminhões
descarregando, o apito de hora em hora, avisando.
A vila crescendo, mudando de cara, o apito
avisando, crescendo, inchando de gente. A fábrica cada dia mais se alargando
como teia de aranha, pegando os viajantes chegados de carteira em branco, com
precisão, dando serviço aos que sabiam ler alguma coisa. O apito, chamando.
Alguns, sem ciência de causa, achavam o trabalho até bom, pois de onde eles
chegavam, diziam, não temos nem onde cair morto. O pai, feitor na fábrica,
repetia a fala deles assim, sem dó.
Roberto
conheceu o bairro nascendo, nos seus primeiros dias. Viu, por esta luz que
alumia, um dia na tarde, um homem soltar um balde de cimento, escorregar no
andaime mais alto, cair em piruetas, abrir os braços no ar e se chocar ao chão
com baque surdo entre matos. Quis correr para lá, mas ficou receoso. Houve um
ajuntamento de outros operários que estancaram o trabalho, mas não puderam fazer
mais nada. Um feitor gritou que podia deixar, ele cuidava de tudo, que fossem
trabalhar, não queria paradeiro ali. Arrastou o corpo pelos braços sujando o
mato de sangue e entrou com esforço na construção, puxando o
defunto.
Roberto correu medroso.
Nessa hora chegou em casa sem saber o quê fazer. A mãe perguntou o que tinha
visto: “Está branquelo, perdeu o sangue das veias, encontrou assombração, a
polícia te pregou susto, isso é que dá ficar na rua zanzando, vadiando. Bem
feito”, terminou dizendo.
Ele
não contou nada. Nunca tinha visto ninguém morrer. De noite, na mesa, todo mundo
jantando, tocou no assunto. O pai assuntou acendendo um cigarro, a mãe
repreendeu com as vistas. Aí o pai disse vai dormir, deixa de histórias de
Trancoso. Depois, falou que daquela semana não passava, já tinha emprego
garantido. Ia começar, passado do tempo, no mais tardar, segunda‑feira que
entra.
Ele
saiu para o quarto, uma coisa lhe dizendo na cabeça, perguntando, se trabalhar
era bom. Ele ainda não sabia. Continuou no grupo escolar estudando na hora da
noite. A bola foi para um canto da casa e nunca mais saiu de lá. A mãe, naquele
tempo, quase nada conversava o dia todo. Sozinha em casa, com quem? Na rua ela
ainda não havia feito nenhuma amizade.
RONALDO
Filho
de pai nordestino e mãe paulistana, tinha 11 irmãos. Era moço ainda, aí pelos 15
anos, quando praticou o primeiro crime. Não entrou na malandragem por acaso.
Numa briga de bar na antiga rua 4, depois de sair de um baile na madrugada de
sábado no Clube da Nitro, seu irmão mais novo foi assassinado por uma dupla ao
se defender do roubo de uma bicicleta.
No
velório, Ronaldo jurou vingança. Mas não ficou esperando que os dois matadores
passassem em frente à sua casa ou, um dia, encontrasse eles jogando sinuca no
bar do Sulino, no Jardim Maia. Não, ao contrário. Saiu do enterro no Cemitério
da Saudade com os olhos cheios de ódio e, gravado na retina, o retrato 3 por 4
dos dois.
Na
época não possuía arma de fogo, mas apenas uma peixeira que o pai trouxera uma
vez da Bahia e usava para descascar cana de uma touceira que ele cultivava
espremida no quintal. Embrulhou a faca numa folha de jornal. Rodou a Nitro
Operária, do começo da noite ao raiar da madrugada. Noite seguinte, achou os
dois num bar na esquina da Pedro Soares de Andrade com a antiga estrada São
Paulo-Rio.
Magro,
físico de desnutrido, parecia que ia ali dentro pedir um refrigerante ou comer
um doce junto ao balcão. Nada. Foi desembrulhando a faca logo na entrada. Quando
Tenorinho deu por conta, não havia tempo de largar o taco e procurar defesa. O
rapaz apenas encostou na mesa e recebeu o primeiro golpe que lhe cortou a veia
do pescoço. Marcelo, o segundo com a morte anunciada, correu em desabalada
carreira e atravessou, com carros buzinando, a via movimentada.
Chovia
fino. Ronaldo saiu em perseguição e perto dos trilhos da antiga Central do
Brasil, junto à estação ferroviária de São Miguel Paulista, o outro escorregou
na lama vermelha. Com passo firme, Ronaldo chegou bem perto e, olhos fixos nos
olhos do rapaz, enterrou-lhe a faca até encostar o cabo na sua pele branquela. A
chuva caía cada vez mais forte.
NANINHOMeio
agalegado, de estatura mediana, aparentava 30 anos. Vivia entre os pequenos
animais de Bananeiras. Ao apontar do trem na curva da Lajinha, na beira do rio
Aipim, recostava-se na anca magra de uma vaca e acompanhava o barulho dos vagões
passando sobre o pontilhão, os guinchos dos freios nos trilhos, a locomotiva da
Leste Brasileiro se arrastando nas linhas cobertas de mato até o reservatório de
água da estação.
Depois, no caminho de terra, em frente ao cercado de animais, Naninho
passava riscando com seu cavalo de pau, o gado que ali remoía sempre dócil à sua
passagem como se ele fizesse parte daquele mundo.
-- Olha o trem – gritava ele, ligeiro trotando.
-- Lá vai o Príncipe – brincavam.
Dia após dia, Naninho fazia aquele trajeto. Eram três quilômetros de sua
casa até a estação. Nunca demonstrava cansaço. Sempre à espera de Francisco, o
irmão, que há dois anos viajara para São Paulo para trabalhar na fábrica de
química.
Logo o trem partia. A maria-fumaça resfolegava na saída da estação.
Apitava, espantando jegues, e bois, e vacas, e cabritos que pastavam o capim verde da beirada
dos trilhos.
Naninho ressurgia nas ruas para a mesma vida.
-- Não veio hoje – dizia nos
quatro cantos da cidadezinha. – Meu irmão chega no trem de amanhã – acreditava
sempre.
Ao
cair da tarde, voltava para ficar junto dos animais. Ali, ficava em silêncio por
algum tempo. Depois rodopiava com o cavalo de pau na fina areia da estrada e com
o pé descalço desenhava um círculo, onde ficava preso e
estático.
--
O que aconteceu, Príncipe? – um dia
alguém perguntou.
--
Tenho fé. Um dia ele volta – sonhava Naninho.
--
Pra que irmão, Príncipe?
-- A gente precisa de alguém no mundo.
-- E se ele morreu?
--
Nunca se soube.
-- Que é isso, Príncipe? Por que essa tristeza?
Não dava nenhuma resposta.
-- Vamos embora, cavalinho.
Todas as manhãs, Naninho passava célere espirrando areia no mato da beira
da estrada e logo sumia, rumo à estação de Lajinha, açoitado pela sua eterna
peregrinação.
|
Livros | Biografia | Contos e Crônicas | E-mail | Página principal